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Tempo, ah o tempo…

tempo

Tinha 9 anos quando uma tia faleceu por problemas cardíacos aos 50. Naquela época, uma pessoa com essa idade já era considerada velha; a morte aos 50, então, era mais fácil de aceitar, se é que estamos preparados para aceitá-la em algum momento. Com o passar dos anos, fui sentindo que a idade começa a pesar nos ombros. E como. Notei que meus amigos de escola, de faculdade estavam ficando muito diferentes e me via, às vezes, dizendo comigo mesma como eles haviam mudado.

Os anos transformaram sua aparência, que pode não ter a mesma textura de pele, o mesmo cabelo, o mesmo peso, mas, ao conversar por alguns minutos, percebemos como seus pensamentos amadureceram, suas atitudes são mais conscientes e seus corações mais afetuosos. São mudanças boas, certamente, que caminhamos anos para conquistar, enquanto nossa juventude vai ficando para trás.

Mas que a idade pesa, ah isso ela pesa. Até os 30 anos tudo vai muito bem, temos disposição e tempo para tudo. E o que não dá para fazer agora, sabemos que há um futuro grande pela frente para realizarmos. Assim, sonhamos muito, temos amores e desamores, idas e vindas, tudo pode, porque temos tempo. Mas enquanto nos prendemos a coisas pequenas, o calendário voa. Então, chegamos aos 40 e aí percebemos que perdemos tempo sem tempo para perder. O que era apenas sonho aos 30, como estabilidade financeira e emocional, aos 40 temos que realizar. Filhos? Depois disso, já passou da hora. Nos vemos sufocados pelas decisões que não podem esperar.

E quando chegamos aos 50? A idade da minha tia que se foi, agora percebo, tão jovem ainda, deixando uma filha única a chorar desamparada olhando o vazio do quarto. Os sonhos e objetivos mudam, mas o anseio pela vida é o mesmo, e a sensação de que o segundo tempo já está em andamento nos deixa, às vezes, reflexivos em relação ao que queremos deixar aqui, ou como queremos ser lembrados. Como somos escravos dessa pequena palavra de cinco letras…, ah, o tempo.

Tudo que já falaram sobre ele é verdade e ele dita tudo. Hoje estamos aqui e amanhã podemos não estar mais. Hoje temos uma vida que num minuto pode mudar totalmente. E, de repente, percebemos que nosso tempo só está encurtando. Mas que domínio temos sobre ele? Nenhum. Nosso tempo é o momento agora, é a vida que pulsa, o sorriso que damos a um desconhecido ou o beijo no filho na porta da escola. Cada momento é único e não volta mais. Desperdiçá-lo é pura infâmia.

02/12/2020

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