Enquanto dirige o carro, parece ouvir um miado vindo de fora, quase um rugido possível de escutar mesmo com os vidros erguidos. Olha para os lados e para o retrovisor e pensa ser um bichano na rua, mas nada vê.
Concentra-se na direção e no noticiário do rádio, está a caminho de uma reunião de trabalho, onde deve chegar antes das 9h30. Saiu em cima da hora e são 20 quilômetros até lá, numa rodovia movimentada e que, a essa hora e com chuva, tende a ter o tráfego ainda mais pesado.
Poucos quilômetros adiante, pensa ter ouvido novamente outro miado. Deve ser no rádio, pondera. Alguns minutos depois, de novo o estranho barulho, e supõe ser a paleta do limpador de para-brisa, porque chove forte e ele está ligado.
Continua pela rodovia enquanto a chuva torna-se mais forte e o volume do rádio precisa ser erguido para ouvir as notícias da manhã. Está com o horário apertado e tem alguns poucos minutos para chegar.
Quando entra no estacionamento do prédio e desce o vidro para acionar a cancela, torna a ouvir o miado forte. A ficha cai: o Charles! Desesperada e sem entender onde ele teria se enfiado, começa a conversar com o coitado. “Calma, Charles, eu vou te pegar”.
Procura atrás, debaixo dos assentos da frente e nada. Abre o porta-malas, porém não está e nem poderia porque não teria acesso. Só falta um local para abrir: o capô. Que desespero! Aciona a alavanca e vê pela fresta o pobre do siamês amarelo de susto. Se erguer a tampa, ele pode escapar. Precisa de ajuda.
Vê um senhor próximo, conta rapidamente o ocorrido e pede auxílio. Ele não acredita quando ela diz de onde veio. Sim, é longe, pegou a rodovia D. Pedro e ele não caiu no caminho.
Quando o senhor levanta o capô, ela segura firme o gato. Está quente, o coração disparado mais que o dela. Um alívio, mas ainda uma preocupação porque não sabe se está machucado.
Liga para o marido, que vem em socorro. Avisa que não vai à reunião e os dois juntos levam o gato embora, não sem antes passar na veterinária e pedir um exame clínico completo. O príncipe está bem, ela diz, mas avisa: hoje ele gastou pelo menos umas cinco de suas sete vidas.
Moral da história: quem tem gato não pode sair com o carro sem ver onde o bicho está!
Campinas, 14/12/21