Nunca pensei, a essa altura da vida, assistir a aulas de matemática, português, ciências, geografia… De repente me vejo no sexto ano do ensino fundamental reaprendendo potencialização, verbete, estados físicos dos materiais, a dinâmica interna da terra. Sim, estou por dentro de tudo.
Minha filha de 11 anos, no sexto do fundamental 2, tem sentado na mesa ao meu lado, desocupada desde o início da pandemia, já que minha assistente também está em home-office. Não deixo de me interessar pelos assuntos das aulas e às vezes quero até palpitar, mas o microfone fica sempre fechado, ainda bem.
Das 13h10 às 18h35, com um intervalo de 25 minutos, ela assiste às aulas aqui. Vez ou outra, busca algum material esquecido no quarto, vai à cozinha pegar uma guloseima ou um copo d´água. Afinal, ninguém é de ferro.
No ano passado, quando isso era novidade, ela até gostava da folga de estar em casa todos os dias, porque era o quinto ano, levava tudo meio de boa, e achava, como eu, que logo voltaria à normalidade e recuperaria o tempo perdido.
Assim foi até outubro, quando finalmente voltou para a aula e aí sim descobriu como a escola era boa. Não tem nada comparado: a proximidade com os professores, a amizade dos colegas, o carinho dos monitores, o recreio, a cantina, só sentia não poder ir à biblioteca para trazer um livro novo para casa a cada semana.
Para ela, não ter aulas presenciais tinha sido até então a grande perda da pandemia. Quando 2021 começou e as aulas foram retomadas, que animação. Sexto ano, mochila nas costas, nova fase da vida, queria até chegar mais cedo na escola para encontrar as amigas. Durou pouco.
Não sei até quando vai tudo isso, mas uma coisa é certa: tenho aprendido cada dia mais, inclusive porque mudaram vários conceitos desde o meu tempo ginasial. Às vezes, ela vem me perguntar algo e minha resposta já começa desse jeito – no meu tempo era assim, mas agora não sei mais, porque conta em pé ou conta deitada já não lembro de nada.
Campinas, 13/03/2021
Portuguese